Uma das maiores necessidades do ser humano é ter o controle sobre seus objetivos e respectivos resultados, a partir das ações e das decisões que toma em prol de seus objetivos de vida. Em decorrência disso, a preocupação com a empregabilidade e estabilidade financeira é um tema fundamental para cada um de nós.
Gostaria de discorrer sobre a questão do emprego, da carreira e da empregabilidade, explorando estes aspectos de forma ampla e sistêmica. Acredito que, assim, a contribuição deste artigo poderá ser mais profunda ao abordar diretamente os fundamentos da empregabilidade.
À parte da questão econômica, das expansões e retrações cíclicas do nível de atividade local e mundial, grande parte da responsabilidade sobre nossa empregabilidade futura recai sobre as nossas decisões. Se qualificarmos melhor as nossas decisões, teremos melhores resultados no longo prazo.
Mas quais elementos precisamos ter para qualificarmos melhor as nossas decisões em busca de uma carreira promissora e longeva?
Hoje em dia, observamos vários ciclos de carreira em nossas vidas. Há pouco tempo tínhamos uma vida e uma carreira se encaixava nessa vida — apesar de podermos mudar de empresas, um mesmo ciclo e perfil profissional percorria o início da vida profissional até a aposentadoria.
Hoje em dia, numa mesma única vida, temos que nos reinventar e inovar, construindo diversas carreiras para a nossa existência, que com o progresso da ciência tende a ser, de forma geral, cada vez mais longa.
Paradigmas e zona de conforto
Para termos uma clara visão dos mecanismos subjacentes à empregabilidade, gostaria de iniciar falando sobre paradigmas. Paradigma é um conjunto de padrões, crenças e verdades que estão estabelecidas e arraigadas em determinado momento na sociedade. Ele estabelece a forma como achamos que as coisas funcionam, o que é verdadeiro e não é verdadeiro, o que deve ser considerado e o que deve ser descartado à luz da verdade considerada.
À luz disso, estabelecemos regras de convivência com o paradigma vigente. A partir dele nós nos capacitamos e, com base nele, somos medidos. Nós construímos instrumentos e ferramentas para conviver com esse paradigma, e o conhecimento e primazia no uso desses instrumentos nos coloca numa zona de conforto.
Uma pessoa da Idade Média, por exemplo, teria que investir grande parte do seu tempo se capacitando para sua defesa pessoal e no desenvolvimento de habilidades com o escudo e a lança. A sociedade o mediria com base nas habilidades no uso desses instrumentos.
Quanto maior a sua habilidade, mais ele se sentiria confortável em sua esfera de atuação, entrando, portanto, numa zona de conforto. Zona de conforto pode ser entendida como a nossa destreza no uso de ferramentas e no entendimento das relações de causa-efeito valorizados pelo paradigma predominante.
Transição e adaptação
Muitas vezes, dois paradigmas convivem no mesmo tempo, num processo de transição entre o velho e o novo. Assim foi com a introdução da energia elétrica nas fábricas, em substituição ao vapor para mover as máquinas. No século XIX, os EUA possuíam parte de sua rede de comunicação por telégrafo instalada na costa leste, primeiramente, e depois na costa oeste, porém por muitos anos a ligação entre elas era realizada através de carruagens. De um momento para outro, as carruagens se tornaram obsoletas e o tempo para se trocar mensagens caiu drasticamente.
Um argumento mais atual: após o advento da pandemia, os estilos de trabalho presencial e remoto convivem atualmente, cada um procurando ocupar o seu espaço e justificar suas vantagens e desvantagens. É um processo de transição que, embora não saibamos ainda como irá se concretizar, com certeza não será exatamente igual ao que era antes do início da pandemia. Novas tecnologias, novos instrumentos e ferramentas foram desenvolvidos, e a destreza no uso deles marcará a nossa capacidade de nos mantermos relevantes.
Associados a esses mecanismos subjacentes, nossos estilos de liderança também têm que se adaptar. Antigamente, um estilo de comando mais hierárquico e controlador era largamente predominante. Há algum tempo, cada vez mais passamos a valorizar estilos de liderança de contexto, com foco nos resultados e na delegação. O comando migra do chefe centralizador para os medidores de resultado.
Como se manter relevante?
Mas como podemos nos posicionar neste momento de tantas inovações?
O desafio é nos mantermos relevantes, qualquer que sejam as inovações que ocorrerão. Carreiras e profissões, assim como no passado, podem se tornar obsoletas no futuro. Empresas precisarão aprender a se manter relevantes. Profissionais terão que aprender a se manter relevantes em suas carreiras e suas empresas.
A pergunta certa a ser colocada é a seguinte: o que precisamos fazer para nos mantermos relevantes? Precisamos estar atentos e renovar constantemente nossos instrumentos, nossas capacitações, nossas crenças, nossas formas de interagir com a sociedade.
Porém, em meio a tantas mudanças, tem uma coisa que não muda, e esta é uma oportunidade que devemos explorar.
O lado comportamental do profissional sempre será demandado e cobrado. A forma como mantemos nosso foco, a firmeza dos nossos argumentos, a retidão das nossas ações, a confiança que transmitimos em nossos grupos de trabalho, a nossa empatia, isso não muda e continuará sendo valorizado. O autoconhecimento e a busca do aprimoramento através da constante aprendizagem e do desafio de nossas próprias crenças são caminhos seguros.
Como empresário de empresa industrial e de serviços, nitidamente identifico que muito antes do conhecimento técnico ser firmado numa entrevista, o candidato precisa passar pelo seguinte filtro: posso confiar nessa pessoa? Ele é mesmo assim como está se vendendo?
Em meio a tantas mudanças, o valor humano continua sendo o diferencial, e é um aspecto que podemos ter controle sobre nós mesmos.
Por João Luiz Simões Neves
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