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Você tem consciência dos seus hábitos autodestrutivos?


"Quando eu era pequeno, meu pai gritava comigo e me chamava de estúpido quando eu cometia um erro. Eu sabia que ele me amava, mas isso fez com que eu sentisse que tinha tinha alguma falha mortal oculta", confidenciou o chefe de uma empresa familiar de sucesso do sul da Europa.


Eu ouvi de alguém que trabalha para o presidente dessa empresa que isso isso é o que ele faz quando precisa dar feedback negativo: gritar, culpar, criticar pessoas. Os funcionários sentiam a mesma coisa que o filho: incompetência. 


Hábitos de trabalho autodestrutivos assim muitas vezes resultam de nossos primeiros aprendizados na vida, e estão tão profundamente arraigados que os repetimos, apesar de às vezes ser óbvio que eles não funcionam.


Agora há uma ferramenta para mudar esses hábitos: focar em nossos padrões inconscientes. Vamos chamá-la de "sussurro da consciência".


O sussurro da consciência se refere à nossa capacidade de entrar em sintonia com padrões emocionais que geralmente são invisíveis, com padrões de reações que sempre são desencadeados. E, como no caso do presidente da empresa citado no início do texto, esses padrões nos obrigam a repetir respostas autodestrutivas – reações que nossa mente ativa instantaneamente, sem que tenhamos um momento de escolha.


Esses hábitos geralmente agem além da luz da consciência. Mas focar intencionalmente nesses padrões nos permite levá-los à luz da consciência – e, uma vez que enxergamos o hábito e os seus resultados negativos, temos a chance de mudá-los para melhor.


Os hábitos negativos são respostas automáticas ditadas por um circuito com foco na amígdala, radar do cérebro para ameaças. Mas pesquisas da Universidade da Califórnia indicam que se nomearmos um sentimento ou hábito – em vez de apenas deixarmos no modo automático – diminuímos a força da resposta da amígdala e ativamos um conjunto diferente de circuitos, incluindo o córtex pré-frontal, onde podemos tomar decisões melhores.


Reconheça a fonte do gatilho


Diferentes estados de espírito nos tornam mais ou menos suscetíveis a desencadear os nossos maus hábitos. Quando estamos em um modo ansioso, por exemplo, estamos mais propensos a comer aquele saco de batatas fritas ou ser ríspido com alguém. Reconhecer como esses estados, ou modos de ser, nos dominam, pode nos ajudar a controlar nossos hábitos.


Siga estes cinco passos simples para desenvolver uma consciência de seus hábitos:


1. Conheça seus hábitos autodestrutivos. Aprenda a reconhecer a rotina de como eles começam e de como tomam conta. Você pode fazer isso tentando perceber quais os pensamentos, sensações e ações que eles trazem. Também uma sugestão do Paul Ekman, muito simples: mantenha um diário de seus "gatilhos", do que causa esses hábitos.


2. Seja consciente. Monitore seu comportamento – pensamentos, sentimentos, ações – a partir de um ponto neutro, como a consciência de uma "testemunha".


3. Lembre-se de alternativas. Pense em uma maneira melhor de lidar com a situação.


4. Escolha algo melhor. Imagine, em cada situação, algo que você possa fazer ou dizer que, em vez de autodestrutivo, seja útil.


5. Faça isso em cada oportunidade que tiver.Mudar hábitos é algo que funciona melhor se tivermos uma compreensão mais completa dos sistemas cerebrais que estão por trás dos nossos hábitos e de como a atenção plena nos ajuda a gerenciar e reprogramar o cérebro.


A prática da atenção plena abre o espaço mental que nos permite ver os nossos hábitos autodestrutivos como eles são, em vez de deixá-los controlar o que dizemos e fazemos.


Uma vez que tivermos essa habilidade mental em nossa caixa de ferramentas interna, poderemos começar a controlar os gatilhos para esses hábitos, reconhecê-los quando ativados, e mudar de rumo para uma melhor resposta.


Para isso, um coach ou terapeuta pode ser uma grande ajuda, nos ajudando a desenvolver a tenacidade mental que tais mudanças de hábito exigem. E se persistirmos, como pesquisas da escola de negócios Case Western apontam, podemos fazer mudanças que durarão anos.


Por Daniel Goleman

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