Você já deve ter visto pelos mais variados sites de negócios a descrição de “ESG a onda verde”, ou então “Prepare-se para o ESG, a percepção de empresa ambientalmente correta”. Por mais correta que esteja essa visão, devemos entender que a “onda verde” e “ambientalmente correto” está contido em ESG, mas o ESG não está contido nesses temas.
O ESG é muito mais abrangente do que pregamos ultimamente e devemos ter essa percepção muito clara (acredito eu que muito mais clara do que a visão do entendimento do significado dos três pilares da sigla). Essa sigla que surgiu lá no início dos anos 2000, agrega com sua implementação uma visão muito mais abrangente do todo dentro de uma corporação e com isso, representa a somatória de questões que estamos acostumados a ver ocorrer potencialmente e achamos que é algo comum.
Corrupção: Falar de corrupção dentro das empresas ainda é considerado tabu, porém, a governança corporativa precisa estar apta a alinhar seus planos e atividades no combate. Mais do que ser uma empresa que não tem corrupção, se faz necessário ser uma empresa anti-corrupção. Pode parecer o mesmo conceito, mas a diferença está na ação ativa de combate efetivo, criando-se meios de proteger o patrimônio da empresa contra situações adversas desse perfil.
Se queremos buscar um pouco do desenvolvimento das agendas ESG, a corrupção foi um dos principais gatilhos no Brasil para a discussão do tema, visto que após esquemas de corrupção deflagrados no país, várias empresas consideradas sólidas, precisaram implementar estratégias anti-corrupção para tornar a fidelizar seus acionistas.
Inclusão e diversidade: Outro tema muito discutido, e que é vangloriado por muitas empresas é a diversidade e inclusão. A apresentação de gráficos mostrando a diversidade no quadro corporativo e as metas de aumento de mulheres e de etnias diversas nos cargos de gestão é um dos processos mais comuns de vermos no dia a dia. O ponto importante que ainda precisamos amadurecer é que uma empresa considerada diversa e inclusiva nas estratégias ESG, mais do que ter um quadro diverso, precisa ter um quadro que entenda a importância de ser assim e principalmente esteja preparado para lidar com questões estruturais de racismo, machismo e homofobia. Muitas pessoas agem com preconceito sem ao menos saber que assim são, e a responsabilidade corporativa está conectada a criar um ambiente aberto de debate com esses temas e gerar o entendimento e percepção daqueles que de fato sofrem por fazer parte de comunidades que por anos e anos foram subjulgadas.
Escuta ativa: Outro ponto importante dentro das agendas ESG que vem sendo negligenciado é a escuta ativa. Escutar todos os envolvidos no seu processo é algo que auxilia o seu desempenho e desenvolve sua cultura. Uma empresa que claramente tem um processo de escuta aberto é percebida pela liberdade de seus colaboradores em sugerir, questionar e criticar abertamente. A gestão da estratégia de denuncia ainda é uma atividade de ação reativa e em boa parte das situações pode não obter os resultados esperados (seja por pessoas que utilizem esse canal como forma de benefício pessoal, ou até mesmo pela falta de efetividade na metodologia de gestão do canal). Empresas que tem um processo de escuta ativa, cria um relacionamento duradouro com os stakeholders e com isso, passam a desenvolver frentes de trabalho otimizadas que beneficiam todas as partes interessadas.
As agendas ESG, percebidas ultimamente como uma grande onda verde precisam ser desmistificadas. A percepção de que gerir o clima, cuidar dos resíduos e assumir compromissos para 10, 15 ou 30 anos, vista como a grande novidade para quem quer sair na frente, é rasa no ponto de vista corporativo e com isso as empresas que estão entendendo que fazer esse trabalho a colocará em um oceano azul de oportunidades, perceberá que logo mais seus negócios passarão a ser percebidos como “comuns”. Haverá ainda um questionamento coletivo quanto as agendas, diante da expectativa exagerada que estamos criando em empresas que se tornaram ESG e deveriam ter sucesso. O sucesso vem do desenvolvimento da cultura e da maturidade, que projeta um programa seguro, fazendo com que automaticamente as ações ocorram e se desenvolvam dentro da empresa. Toda vez que você precisa fazer algo que lhe parece forçado, é porque provavelmente o seu método não corresponde ao que precisa ser feito.
Por Luiz Otávio Goi Jr.
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